Ministério Público pode pedir quebra de sigilo da Celpa
Ministério Público pode pedir quebra de sigilo da Celpa
13 de abril de 2012 Nenhum comentário em Ministério Público pode pedir quebra de sigilo da CelpaA Centrais Elétricas do Pará S.A. (Celpa) poderá ter seu sigilo bancário quebrado, através de pedido do Ministério Público Federal do Pará. A intenção do promotor, Bruno Valente, é ter acesso ilimitado às movimentações financeiras da empresa. Ele suspeita que empréstimos entre companhias do grupo Rede Energia S.A., que controla a Celpa e oito distribuidoras elétricas, tenham sido irregulares. As informações foram publicadas pelo jornal Valor Econômico.
No dia 28 de fevereiro a Celpa entrou com pedido de recuperação judicial, que corre na 13ª Vara Cível da Capital paraense. Em 2011, a dívida líquida da empresa aumentou 55,3% para R$ 1,6 bilhão. As perdas – diferença entre o consumo e a energia requerida – subiram 1 ponto percentual para 31,6% e os prejuízos quase quadruplicaram, para R$ 391,1 milhões.’Estou finalizando a leitura de documentos que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) me enviou, mas não quero demorar para pedir a quebra do sigilo bancário’, disse o procurador ao Valor, na última quarta-feira.
‘Queremos descobrir os motivos que levaram a Celpa à essa situação e garantir que a solução não represente custos maiores para os consumidores’, disse o promotor ao jornal Valor Econômico.
O Ministério Público Federal aponta três fatores que levaram a Celpa ao quadro de insolvência: falta de investimento; incompetência para gerir a distribuidora em um estado com 1,3 milhões de quilômetros quadrados, e enfraquecimento do caixa com empréstimos a outras empresas do grupo. É nesse último item que o procurador busca justificativa para quebrar o sigilo bancário. O presidente do grupo Rede Energia, Jorge Queiroz de Moraes Junior, rebate.
Em entrevista dada na quinta-feira (12) ao Valor, ele disse que a Celpa hoje é devedora de outras empresas do grupo em mais de R$ 100 milhões. E diz que a situação atual da Celpa é resultado de ‘esqueletos’ herdados da privatização. Segundo Moraes Junior, débitos não detectados na compra da estatal em 1998 somaram ao longo de 14 anos aproximadamente R$ 1 bilhão de reais a valor presente.
O empresário aponta ainda que a distribuição de energia no Pará enfrenta desafios maiores que aquelas existentes em outras concessões. Ele cita a grande área despovoada e as regiões de mata e de rios com difícil acesso. Segundo o executivo, desde que assumiu a Celpa, a empresa levou energia a 4,8 milhões de pessoas que estavam no escuro. Hoje, há 350 mil paraenses sem acesso à luz elétrica. Desses, 150 mil já estarão atendidos até dezembro. ‘Levamos energia a regiões como a ilha de Marajó. Apresentamos índices superiores aos exigidos pela Aneel’, disse Moraes Junior.
No último balanço divulgado pela Celpa, referente a 2011, a Região Metropolitana de Belém, que representa 32,4% dos consumidores da empresa, as obras do plano de melhorias da empresa foram concluídas. Isso levou a uma redução de 19% no índice DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Consumidor, um dos principais indicadores de qualidade de serviços da Aneel).
O presidente do grupo Rede Energia diz que o pedido de quebra de sigilo bancário é desnecessário. ‘Estamos totalmente abertos. Estou para me reunir com o procurador e dar respostas a todo questionamento que me for feito’, disse Moraes Junior. O executivo argumenta que a Celpa pagou o preço de programas do governo, como o Luz para Todos. Na linha de raciocínio do controlador da Celpa, mesmo que o financiamento dado pelo governo para planos de universalização tenha sido igual para todas distribuidoras do País, o custo de manutenção – que é privado e não conta com financiamento – foi diferente. É justamente essa despesa que pesa mais para companhias que atuam em áreas de concessão maiores e de acesso mais difícil.
Analistas ouvidos pelo Valor dizem que a tese do presidente da Rede Energia não pode ser ignorada. Para um especialista em energia de um dos maiores bancos que atuam no País, a concessão da Celpa tem características muito próprias, como a grande extensão territorial do Pará, cerca de cinco vezes o tamanho do Estado de São Paulo.
Nessa linha, o custo de manutenção de um programa como o Luz para Todos é significantemente maior. Uma fonte que acompanha as investigações da Celpa disse que o fim da recuperação judicial por meio de venda a uma outra companhia ou pela retomada da concessão pode exigir um ajuste da ordem de 20% na tarifa média junto aos consumidores. Esse seria o custo para o saneamento das dívidas, recomposição da geração de caixa e da retomada da capacidade de investimentos. Mas um reajuste dessa ordem só seria possível com o chamado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) a ser acertado com a Aneel.
O Portal ORM entrou em contato com o Ministério Público Federal, mas foi informado pela assessoria de imprensa que o promotor Bruno Valente só deve comentar o caso na semana que vem, depois de uma reunião com o Ministério Estadual. No encontro serão definidas as ações do MPF sobre o caso.
Leave a comment