Exigência de escrituração fecha clubes de investimento
Exigência de escrituração fecha clubes de investimento
19 de julho de 2012 Nenhum comentário em Exigência de escrituração fecha clubes de investimentoO aperto da regulação da Comissão de valores mobiliários (CVM) por meio das instruções n. 484 e n. 485 de 2011 impulsionou a saída de 21,4 mil pessoas físicas da Bolsa de Valores (BM&FBovespa) e o fechamento de 194 clubes de Investimentos em 2012.
“A exigência da escrituração contábil das demonstrações financeiras nos clubes de Investimentos elevou os custos a um menor número de sócios, cujo máximo caiu de 150 para 50 pessoas por clube”, explicou o gerente de Home broker [plataforma de negociação na Internet] da corretora Souza Barros, Daniel Garcia. Na corretora em que ele atua, o número de clubes diminuiu de 20 para 5.
De fato, o Balanço de operações da BM&FBovespa reporta que o número de clubes de Investimentos se reduziu 6,8% no ano, de 2.852 registros ao fim de dezembro de 2011 para 2.658 ao fim do mês de junho. No mesmo período, o número de pessoas físicas que participavam desta modalidade reduziu-se de 117,078 mil para 95,665 mil investidores.
Na avaliação de Garcia, o cenário de pessimismo com o desempenho da Bolsa também contribuiu para a saída dos investidores. O patrimônio Líquido dos clubes caiu 11,21% nos últimos três meses, de R$ 9,9 bilhões ao fim de março para R$ 8,87 bilhões ao fim do mês de junho, uma redução de valor de mercado de R$ 1,03 bilhão.
“Parte dos cotistas que saíram de clubes continua no mercado, operando individualmente. Mas o número de investidores pessoa física que já operavam também diminuiu”, lamentou Garcia.
Segundo dados da Souza Barros, o número de investidores Ativos na Bolsa, aqueles caracterizados por operar com regularidade diminuiu em 13 mil no ano, de 146 mil para 133 mil pessoas.
“O aperto de regulação da CVM apesar de necessário veio numa hora muito ruim, e o mercado perdeu uma grande parcela de investidores”, avaliou o professor do Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Fernando Galdi.
Ele explicou que a CVM agiu corretamente ao coibir uma prática irregular, a de clubes de Investimentos estarem atuando como fundos de investimentos. “Durante um tempo vai haver uma adaptação às novas regras, os clubes vão continuar existindo mas com estratégias diferenciadas”, prevê o professor.
Galdi lembrou que apesar do aumento dos custos, a principal vantagem dos clubes de Investimentos ainda não se perdeu: a possibilidade de diversificação das carteiras por um grupo de até 50 pessoas. “Mas os ETFs [fundos de índices] podem oferecer essa diversificação aos investidores individuais”, apontou.
Para a diretora do Home broker Rico, da Octo Investimentos, Mônica Saccarelli, ante os custos, o investidor vai preferir operar individualmente via Internet. “O mínimo de volume para abrir um clube está entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, a nova geração de investidores vai querer operar com independência via Internet”, visualiza Mônica Saccarelli, da Rico.
Já o responsável por clubes de Investimentos da WinTrade, Home broker da Alpes Corretora, Murillo Jurado, diz que sua instituição continua incentivando a abertura de novos clubes. “Aqui na corretora, nenhum dos 24 clubes foi fechado e estamos atendendo a abertura de 5 novos clubes”, sustenta Jurado.
Para o professor de Finanças da ESPM, Eduardo Balian, a estratégia das corretoras de levar os investidores de clubes para contas individuais pode ser um erro. “O clube de Investimento exige um atendimento mais próximo, enquanto o Home broker reduz custos às corretoras, mas elas podem perder clientes no médio prazo pela falta de dedicação aos clientes que têm pouca cultura financeira”, alertou Balian. Ele contou que o clube de Investimentos formados por alunos da ESPM não prosperou e fechou.
Souza Barros e Rico destacam a educação financeira como forma de atrair os novos investidores. Daniel Garcia contou que a Souza Barros realiza palestras educativas e informativas aos clientes e uso de rede sociais para o público mais jovem; e Mônica Saccarelli destacou que a Rico está investindo em formação educacional dos investidores e utiliza chats (salas de bate-papo) para divulgar informações relevantes e úteis aos usuários da Internet.
Mas quanto à realidade atual, todos os consultados estão cientes de que o mercado está menor sem a participação mais efetiva das pessoas físicas na Bolsa de Valores. “O potencial investidor está muito atento ao noticiário da crise, existe uma correlação muito forte com cenário econômico, que não oferece entusiasmo para o Investimento em ações”, relaciona Garcia, da Souza Barros.
Na visão de Garcia, a queda da Taxa Básica de juros (Selic) que acarreta menores rendimentos na Poupança e aplicações de Renda Fixa deve incentivar aos poucos o retorno do investidor ao mercado acionário. “É preciso um ambiente favorável para dar ânimo ao investidor”, opinou.
A meta do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, é alcançar 5 milhões de investidores pessoas físicas na Bolsa de Valores antes da próxima década.
Fonte: Portal da Classe Contábil
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